Na edição de 2024, o Simpósio Olhares sobre a Animação Portuguesa, comissariada pela Professora Sahra Kunz da Universidade Católica Portuguesa – Porto, incidirão sobre a obra de Regina Pessoa (Coimbra, 1969). Esta realizadora constitui-se como uma das mais importantes figuras da animação de autor contemporânea em Portugal. A sua cinematografia, desde A Noite (1999), até Tio Tomás, A Contabilidade Dos Dias (2019) tem merecido reconhecimento internacional nos festivais de animação mais conceituados do mundo, levando à sua indução no painel de jurados para os Óscares, e ao reconhecimento especial no festival de Annecy de 2023.
Os objetivos deste painel são de confrontar as visões das distintas áreas representadas nesta edição pelos convidados, a ver: Laura Castro (UCP/EA – História de Arte), Luísa Veloso (ISCTE – Sociologia), Patrícia Oliveira (UCP/FEP – Psicologia/Neurociências) e Pedro Serrazina (Lusófona – Animação). Acreditamos que a diversidade deste painel vai constituir uma visão única e diversa sobre a obra de Regina Pessoa.
Continua a ser propósito da organização do CINANIMA dar continuidade a este projeto, com o principal objetivo de disseminar a investigação em Animação a públicos que com ela estão familiarizados, mas também cativar novos públicos.”
Parceiro: Escola das Artes da Universidade Católica – Porto
Sahra Kunz é licenciada em Artes Plásticas – Pintura – pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (1997). Obteve o grau de Mestre em Som e Imagem pela Universidade Católica Portuguesa (2001).
É doutorada em Desenho pela na Faculdade de Belas Artes da Universidade do País Basco (Bilbao – 2011).
Desde 1998 é docente no curso de Som e Imagem da Universidade Católica Portuguesa, lecionando de entre outras, as disciplinas de Ferramentas de Desenho, Desenho para Pré-Produção, História da Animação, Teoria da Animação, Atelier de Animação, Produção de Projeto Final de Animação e Dissertação.
Regina Pessoa nasceu em Coimbra em 1969. Licenciou-se em Pintura na Escola de Belas Artes da Universidade do Porto.
Trabalhando em várias técnicas de gravura animada criou e dirigiu filmes de autor como “A Noite” (1999), “História Trágica com Final Feliz” (2005), “”Kali o Pequeno Vampiro” (2012)” e “Tio Tomás a Contabilidade dos Dias”” (2019) que têm sido distinguidos com inúmeros prémios e distinções nos principais Festivais Internacionais de Cinema e eventos como o Grande Prémio de Annecy’06; Grande Prémio SXSW’07; Prémio do Júri de Annecy’19; Prémio ANNIE’20 de Melhor Curta Metragem.
Os seus filmes são exibidos em todo o mundo, incluindo importantes Museus de Arte como a exposição individual de “História Trágica com Final Feliz” na Bienal de Desenho “To the very last drawing” do Museum of Modern and Contemporary Art de Rijeka – 2009; no Museu l’Orangerie no âmbito da exposição “Les contes cruels de Paula Rego” – 2018/2019 e no Museo de Bellas Artes das Astúrias, com “Quatro Janelas Discretas”, uma vídeo-instalação sobre a sua Obra – 2023.
Em 2016 tornou-se Senior Lecturer na FILMAKADEMIE-Alemanha.
Em 2018 tornou-se membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Hollywood)
Com uma visão artística e criativa pessoal distinta expressa não apenas nos seus filmes, mas também através da ilustração, pintura e desenho, atualmente encontra-se a desenvolver o seu próximo filme, “As Caras da Mãe” no Estúdio Ciclope Filmes, situado na CASA MUSEU DE VILAR – Museu da Imagem em Movimento.
No filme de Regina Pessoa, Kali o pequeno Vampiro, há uma gaveta aberta no peito da personagem, onde se guardam materiais com significado. Na arte moderna e contemporânea, gavetas como esta que protegem segredos e mistérios, sonhos e projetos, objetos recordatórios, elementos fabricados ou encontrados, artificiais ou naturais, podem adquirir a forma de caixas, malas, gabinetes e outros dispositivos de recolha, coleção e memória.
Noutro filme da realizadora, Tio Tomás, há uma maneira peculiar de dispor cuidadosamente certos objetos que lembra algumas vitrines de museu, que é outro dispositivo de coleção e memória.
Esta comunicação evoca a gaveta e a vitrine de museu para refletir sobre Regina Pessoa como respigadora de memórias. Objetos e memórias do seu universo familiar e de estranheza intimista, de caráter biográfico e autobiográfico, estão ali, prontos para respigar quando solicitados pelo gesto artístico como se apenas eles pudessem ocupar o coração da sua obra.
Professora na Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa, de que foi diretora entre 2013 e 2017, e investigadora do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes.
Doutorada em Arte e Design pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Entre o início da década de 90 e 2006, trabalhou no sector cultural. Foi diretora regional de Cultura do Norte e vice-presidente do Património Cultural, IP.
Escreve regularmente sobre arte moderna e contemporânea, museologia, arte e paisagem e arte pública.
É membro da Associação Portuguesa de Historiadores de Arte e da Associação Internacional de Críticos de Arte. Presidiu à direção do Círculo de Cultura Teatral/Teatro Experimental do Porto (2015-2021), foi membro da Direcção da Árvore/Cooperativa de Atividades Artísticas (2010-2015), e do Conselho de Administração do Lugar do Desenho/Fundação Júlio Resende (2009-14 e 2019-20).
O trabalho de Regina Pessoa comunga de um olhar sobre as relações entre atores sociais que assume, nas suas várias criações, configurações heterogéneas. De uma densidade notável, propõe olhares vários sobre os processos sociais de construção e desconstrução de identidades em diálogo com o Outro e com lugares e tempos perenes e etérios.
Partindo da crença segundo a qual o trabalho de criação artística constitui uma atividade de produção de conhecimento, propõe-se uma reflexão em torno dos filmes de Regina Pessoa discutindo de que forma apresentam uma reflexão sobre as sociedades contemporâneas, com destaque para as relações e identidades sociais.
Socióloga. Professora Associada no Iscte – Instituto Universitário de Lisboa. Investigadora no Cies – Instituto Universitário de Lisboa. Investigadora Associada do Instituto de Sociologia – Universidade do Porto. Professora do Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto entre 1991 e 2008.
Coordenadora e membro de equipas de investigação de vários projetos nacionais e internacionais. Autora de várias publicações. Principais interesses de investigação: inovação, ciência e tecnologia; trabalho, economia e profissões; arte, cultura e aprendizagem. Colaboração com várias instituições na área da cultura, tais como a Cinemateca Portuguesa, a Fundação de Serralves, O Rumo do Fumo, a Associação Sete Anos. Atualmente é Diretora do Departamento de Sociologia da Escola de Sociologia e Políticas Públicas.
Esta comunicação desafia o público a explorar as camadas emocionais e a trajetória de metamorfose pelas quais passam as personagens presentes nos quatro filmes de animação realizados por Regina Pessoa: ‘A Noite’, ‘História Trágica com Final Feliz’, ‘Kali o Pequeno Vampiro’ e ‘Tio Tomás a Contabilidade dos Dias’. Ao longo do seu percurso, Regina Pessoa convida-nos a criar espaço para um encontro com personagens que nos vão marcar profundamente. A cada filme, os seus personagens avançam no sentido de mais e não menos marginalização e sensação de não pertença, e de mais e não menos busca por compreensão e proximidade.
Patrícia Oliveira-Silva lidera o Human Neurobehavioral Laboratory e é vice-diretora da Faculdade de Educação e Psicologia da Católica no Porto, responsável pelas áreas da internacionalização, investigação e transferência de conhecimento. Com uma carreira nas neurociências sociais, explora os correlatos neurológicos da regulação emocional, empatia e relações interpessoais. Tem liderado projetos de investigação com financiamento internacional por agências nacionais e internacionais e mantém um forte compromisso com o investimento na parceria com a comunidade. O seu envolvimento com a comunidade científica tem promovido intensa colaboração internacional e interdisciplinar. Mais recentemente, os seus esforços estratégicos têm destacado com sucesso a importância crítica da internacionalização, estabelecendo-a como um elemento fundamental para promover a inovação social, na investigação e no ensino superior.
Com base na poética do espaço, de Bachelard, na exploração da perceção de Merleau-Ponty, e no texto de Batkin sobre a construção de identidade no cinema de animação, examinamos como a construção do espaço nos filmes de Regina Pessoa reflete traços de memória e contribui para uma identidade visual profundamente pessoal e única. Nesta perspetiva, o espaço animado não é apenas background para as personagens, cenário típico do cinema de animação, mas facilita uma experiência de perceção ativa, que revela múltiplas camadas e confere coesão à sua obra como um todo.
Pedro Serrazina é realizador premiado e professor universitário de cinema de animação. A sua primeira curta-metragem, “Estória do gato e da lua”, estreou internacionalmente no Festival de Cannes ’96 e continua a ser regularmente exibida em retrospectivas e festivais internacionais. Desde então, o seu trabalho tem sido exibido e publicado internacionalmente, variando entre filmes, instalações site-specific, documentários, vídeos musicais e artigos académicos. Serrazina interessa-se pelas interconexões entre arquitetura, documentário e animação, e o seu doutoramento foi dedicado à exploração do espaço animado como ferramenta de reflexão sobre o espaço social. Membro da Society for Animation Studies e do Ecstatic Truth (simpósio dedicado à animação aplicada às práticas documentais), Serrazina está atualmente a preparar o seu próximo filme, “O Que Sobra de Nós”.